Por Arthur Dmytto
A maioria dos grandes impérios existentes ao longo da história da humanidade tiveram seu começo, atingiram seu ápice e com o tempo chegaram ao fim. Foi assim com os romanos, egípcios e bizantinos. Todos eles declinaram, não importando quão gloriosos foram no passado. Se fizéssemos uma analogia entendendo o cinema como um império do mundo moderno e da indústria da cultura e do entretenimento, poderíamos entender que o cinema, como espaço físico, estaria passando por esse mesmo processo?
Desde das primeiras projeções de imagens em locais públicos já se tinha uma ideia de como a sétima arte deveria ser contemplada. O objetivo era de que as pessoas se reunissem em um local específico para apreciar uma produção cinematográfica. Na segunda guerra mundial, esses espaços ganharam mais força com a utilização de filmes como propaganda de guerra, tanto pelos Aliados, composto por Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética, quanto pelo Eixo, composto por Alemanha, Itália e Japão. Nos anos Pós Segunda Guerra, o cinema ganhou mais força com os surgimentos de novas tecnologias de filmagem e de reprodução em tela. A partir dos anos 1950 até o final do século XX os filmes de ficção científica ou com temáticas militares se popularizaram como uma forma de marketing e de promoção de ambos os lados do mundo polarizado.
O final do século XX e o começo do século XXI deram início a ascensão de filmes feitos com o auxílio de computação gráfica. Podemos dizer, portanto, que o cinema vive seu auge tecnológico e rentável nos dias atuais, e os espaços físicos convencionais sempre estiveram atrelados a esse sucesso ao longo de todos esses anos. Contudo, o isolamento social causado pela pandemia do Covid-19 impediu as pessoas de irem até os cinemas para apreciar os filmes. Nesse cenário, um novo meio de consumir esses produtos áudio visuais que já vinha se popularizando a alguns anos passou a se destacar cada vez mais.
Com a popularização dos serviços de streaming e a massiva produção de filmes exclusivos para essas plataformas, discussões são levantadas acerca do esvaziamento das salas de cinema mesmo após o fim da pandemia. Não há como negar que assistir um filme no aconchego do nosso lar é bem confortável, dando a liberdade para assistirmos eles em partes, de fazermos barulho ou até mesmo de desistirmos de ver a produção se ela não nos agradou, sem perder o tempo de deslocamento ao cinema e nem o dinheiro do ingresso.
Porém, todos esses benefícios e conforto que os streamings proporcionam tem o seu preço: a perda da magia da sétima arte presente no espaço físico compartilhado. Fazendo um paralelo com o futebol, o torcedor pode até acompanhar o jogo pela TV ou pelo rádio, contudo, ele só vai apreciar com plenitude a experiência da partida se estiver no estádio. É nesse espaço onde fluem todas as emoções possíveis de um confronto entre dois times. O canto da torcida, os abraços e a festa quando o time de coração sai vitorioso e até mesmo o choro e o consolo de quando a derrota acontece. Só nesse local que se pode apreciar a completude as sensações proporcionadas por esse esporte.
Digamos que o “estádio” do cinema é a própria sala em que se passa o filme. Imagine um lugar em que possamos chegar em qualquer dia da semana, sentar em uma poltrona confortável, desligar o celular e apreciar initerruptamente por algumas horas algo que vai nos fazer sorrir, refletir sobre coisas importantes ou até mesmo nos fazer chorar. Quando estamos nesse lugar e desligamos o celular, nada poderá nos incomodar, ninguém irá ligar ou nos impedir de vivenciar essa experiência imersiva. O som predominante que ouviremos é o que está saindo do sistema de áudio e tudo que enxergaremos é o que está sendo exibido na tela. É como se fosse outro mundo.
É justamente na sala de cinema que a sétima arte pode ser apreciada em sua plenitude. A magia está ali e, assim como na vida, nós não podemos pausar o filme ou interrompê-lo por que não gostamos dele. Podemos apreciar a sétima arte de qualquer forma, assim como quem aprecia um jogo de futebol acompanhando pela TV ou pelo rádio. Mas a experiência de assistir ao filme nos cinemas físicos, onde as emoções são potencializadas ao máximo, jamais poderá ser substituída.
É inegável que os serviços de streaming vieram para ficar, e isso não é algo ruim, muito pelo contrário. Nem todo mundo tem tempo ou até mesmo dinheiro sobrando para se deslocar até um local para ver um simples filme. Pode até ser que isso cause uma diminuição de pessoas frequentando os cinemas, mas desejo e acredito que eles não iram sumir do mapa como alguns impérios desapareceram. Os espaços tradicionais fazem e sempre faram parte da arte e da magia que é o cinema.
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