Como a ‘7ª Arte’ se Tornou um Luxo Inacessível
Por Arthur Dmytto
O artigo 6° da constituição brasileira garante um série de direitos sociais para a população, dentre eles está o lazer. Ir ao cinema se caracteriza como uma atividade recreativa que proporciona um momento de descanso e entretenimento, ou seja, uma forma de se divertir e se desligar das obrigações do dia a dia. Porém, frequentar esses locais está ficando cada vez mais caro, fazendo com que as pessoas com um poder aquisitivo menor diminuam consideravelmente o consumo de filmes no cinema, ou até mesmo pare de frequentar esses
A partir da década de 1980 os cinemas de rua foram perdendo espaço nas cidades e começaram a migrar para os shoppings centers. Essa ação visava garantir uma melhor segurança e conforto para as pessoas, assim como direcionar o negócio para um local em que se tem uma maior circulação de consumidores. Apesar de ser uma ação compreensível, é inegável que a migração dos cinemas para os shoppings causou o encarecimento dos ingressos e também dos serviços que fazem parte desse “ritual” de assistir filmes na sala de cinema, como o combo da pipoca com refrigerante.
A maior questão a ser levada em conta é o fato de que a sétima arte passou de um valioso produto cultural voltado ao lazer e apreciação intelectual, para um simples bem de consumo. Ao colocar as salas de cinema no mesmo local em que se encontram lojas de roupas, calçados, joias e outros produtos, o cinema se torna também um produto como outro qualquer, disputando o espaço e atenção com inúmeros concorrentes de peso. Como se não bastasse isso, existem custos adicionais como transporte e estacionamento, que não são baratos em shoppings centers.
Há ainda outras questões que estão por traz do preço do ingresso. Aluguel da sala, pagamento de direitos autorais, impostos e pagamento ao distribuidor são determinantes para a definição do preço que irá se pagar para assistir um filme no cinema. Todas essas variantes tendem a encarecer ainda mais o produto.
Imagine o valor que uma família composta por quatro pessoas gasta atualmente em uma simples ida ao cinema. Mesmo que dois dos integrantes paguem meia entrada, ainda ficaria um valor muito alto se considerarmos os custos com alimentação, transporte, estacionamento e outras coisas que podem estar inclusas.
Mas existe uma saída para quem quer apreciar um filme sem gastar muito? A resposta está nos serviços de streamings. O valor que uma família de quatro pessoas gasta em uma ida ao cinema é o suficiente para pagar durante um mês duas ou três plataformas de audiovisual online, causando um considerável esvaziamento das salas de exibição e provocando a reflexão que nos faz pensar se o streaming vai substituir as salas de cinema, Esse processo de “elitização” do cinema impede que a população brasileira tenha acesso a esse tipo de lazer. O prazer de sair de casa em algum dia da semana com a família para realizar uma atividade simples que é ver um filme está cada vez mais difícil para quem é menos favorecido financeiramente.