Entre Palavras e Imagens, Uma Vida de Narrativas
Por Gabrielly Farias
Nathan Cirino, roteirista e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), natural de Campina Grande, PB, desde a infância encontrava diversão na construção de narrativas, até mesmo criando pequenos filmes improvisados para os espectadores da rua, mesmo que sua câmera de brinquedo não filmasse. Apesar de sua família não ter influência direta na área de arte ou cinema, ele foi incentivado a escrever, especialmente após a morte de sua avó, quando sua tia lhe ofereceu papel e caneta para expressar seus sentimentos, desencadeando assim sua jornada na escrita.
Aos 16 anos, Nathan publicou seu primeiro livro, Memórias da Cama de Cedro, seguido por A Loucura de Jara anos depois. Inicialmente, suas publicações eram modestas, impressas em uma gráfica, mas ele continuou a perseguir sua paixão pela escrita. Durante sua graduação em Arte e Mídia, percebeu a falta de bibliografia sobre roteiros para filmes interativos, o que o motivou a buscar uma pós-graduação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde começou a explorar essa área.
Sua jornada acadêmica incluiu mestrado e doutorado com foco em roteiro, e experiência do usuário em narrativas interativas, respectivamente. Ele mergulhou na pesquisa de tecnologias emergentes, como a realidade virtual, e expandiu seu interesse para além do cinema clássico, explorando novas formas de contar histórias em ambientes imersivos.
Além de sua carreira acadêmica, Nathan encontrou uma paixão pelo ensino, embora inicialmente tenha enfrentado desafios por sua idade e falta de experiência. Ele afirma:
Desde aquele período, enfrentei um desafio considerável, pois ingressei muito jovem, aos 26 anos, em 2010. Lembro-me de dar aulas para colegas de turma que estavam tendo dificuldades para concluir as disciplinas. Deixei o curso por um período e retornei cerca de um ano e meio depois para lecionar. Foi um desafio inicialmente, por causa da minha juventude e do fato de estar ensinando para pessoas que já haviam sido minhas colegas. Alguns até eram meus amigos. No entanto, após 14 anos de experiência lecionando aqui, considero um privilégio poder viver do cinema, mesmo que não seja através da produção de filmes
Seus hobbies estão intrinsecamente ligados ao seu trabalho, pois ele encontra prazer tanto em escrever quanto em consumir filmes e séries.
Ele acredita que ensinar roteiro não se resume apenas a transmitir conhecimento técnico, mas também envolve ouvir e compartilhar histórias, proporcionando um espaço para os alunos explorarem e expressarem suas próprias narrativas. Vendo o ensino como uma oportunidade de abrir portas para a intimidade emocional e o autoconhecimento, permitindo que os alunos contem as histórias que precisam ser contadas.
Nathan compartilha sua crença na ficção como uma forma de terapia, uma jornada de autodescoberta que nos leva a explorar territórios desconhecidos e confrontar nossos próprios demônios interiores. Para ele, cada história é uma porta para um universo paralelo, uma oportunidade de mergulhar em realidades distintas e compreender a complexidade do mundo que nos cerca.
Enquanto compartilha suas experiências como cineasta, ele revela sua paixão por desafiar os limites da linguagem cinematográfica, testando novas formas de narrativa e explorando temas controversos. Seus filmes, desde o provocativo Lamúria até o inovador Madame, são reflexos de sua busca incessante por novos horizontes, cada obra um mergulho corajoso no desconhecido.
Em sua jornada rumo à maturidade artística, Nathan encontrou na colaboração e na troca de experiências o combustível para sua criatividade. Seja na sala de aula ou nos corredores da produção cinematográfica, ele continua a desafiar os próprios limites, impulsionado pela inabalável convicção de que o verdadeiro poder da arte reside na capacidade de nos transformar e nos conectar uns aos outros.
Durante a conversa, ele refletiu sobre experiências marcantes vivenciadas durante as filmagens de seus filmes, e aquela que ele considerou mais impactante foi durante as gravações de Apneia. Compartilhou os desafios enfrentados durante a produção, realizada em meio à pandemia de 2021. Apesar dos obstáculos, como a constante preocupação com a segurança devido à presença da água, que poderia servir como meio de transmissão do vírus, a equipe persistiu impulsionada pela sua ardente paixão em narrar histórias por meio do cinema.
Uma cena memorável ocorreu quando uma assistente de fotografia assumiu a câmera subaquática, permitindo que o diretor descansasse. O resultado desse esforço foi emocionante, com a assistente chorando de felicidade ao ver o plano perfeito que havia capturado. Essa experiência exemplificou a determinação e o comprometimento da equipe em meio às circunstâncias adversas “Uma assistente de fotografia, Nayane Queiroz, assumiu a câmera quando o diretor precisou descansar durante as filmagens subaquáticas. Ela conseguiu realizar um plano difícil e, ao conferir no computador, chorou de emoção. Isso simbolizou a paixão pelo cinema e a força dos sonhos de fazer cinema profissionalmente”.
Imerso em sua visão única sobre a criatividade e a produção artística, ele desvenda a metáfora do “pato” que tanto utiliza para descrever seu processo multifacetado
O pessoal condena o pato porque o pato nem voa direito, nem anda direito, nem nada direito. Faz tudo, mas não faz nada bem. E eu acho que até pela minha formação e pela proposta do curso em que eu leciono, a gente forma o pato, mas de certa forma não é esse pato que não faz nada bem, mas é o pato que faz um pouco de tudo.
Com uma expressão que mescla reflexão e paixão, ele explana sobre a necessidade de liberdade criativa e diversidade de expressão. “Não é o fato de ser cineasta que o impede de escrever um livro, ou de escrever um livro que o impeça de criar uma peça de teatro“, ele declara com convicção. Em cada palavra, transparece não apenas a amplitude de sua obra, mas também a profunda conexão entre sua prática como professor e sua paixão pela produção artística. Enquanto compartilha suas realizações e desafios, fica claro que sua jornada é tanto um testemunho de sua dedicação quanto um estímulo para os que o rodeiam. Assim, ele não só ensina o “como”, mas também mostra o “o que”, iluminando o caminho para aqueles que se aventuram nos domínios da criação.