A ideia visual da produção da novela Cordel Encantado traz cultura literária regional para as telas
Por Isabella Silva
A literatura de cordel, que fortalece até os dias atuais o regionalismo do Nordeste através das rimas, xilogravuras e atos repentistas, também se fez presente na novela das 18h, Cordel Encantado, de 2011.
As autoras Duca Rachid e Thelma Guedes inovaram na produção da teledramaturgia com inspirações em histórias fantasiosas, como Robin Hood e Branca de Neve, e os contos cantados nos cordéis nordestinos brasileiros. Essa relação é perceptível quando se nota uma união entre a realeza e o cangaço, proporcionada pelo reino da Seráfia do Norte e a cidade de Brogodó durante a novela.
Algumas características da literatura de cordel são vistas durante a trama da rede Globo, desde o audiovisual até a musicalidade presente nos episódios. A presença de elementos que transmitem a ideia de xilogravura são vistos desde da abertura dos episódios diários, utilizando animações em estilo bidimensional, como é realizado na produção dos cordéis, além da trilha sonora na voz de Gilberto Gil, com a música Minha Princesa Cordel, que relembra aspectos das cantorias repentistas do sertão,
Cordel Encantado é embasado pelas lutas ideológicas, incluindo divisões de terras e hierarquias, além do romance entre Açucena (Bianca Bin) e Jesuíno (Cauã Reymond) que também possuem estética e histórias desenvolvidas dentro da literatura nordestina, a exemplo da grande rixa entre as duas famílias e os aspectos regionais proporcionados através da produção de arte da novela, como comenta a produtora Ana Maria de Magalhães “Cordel teve uma licença poética que contribuiu muito para que a gente se sentisse à vontade para brincar”.
Acredito que da mesma forma que os folhetos de cordéis são expostos a venda, a novela Cordel Encantado conseguiu expor a cultura do Nordeste não apenas pela temática, trama ou caracterização, mas também na utilização de um objetivo que muitas vezes é invalidado no cenário nacional, a representatividade cultural. As principais características presentes nos cordéis são vistas explícitas ao decorrer da novela, como as animações em “xilogravuras”, identidades regionais e as rimas presentes em algumas cenas, como a personagem Teinha (Patrícia Werneck) sendo conquistada através de uma rima realizada pelo Quiquiqui (Marcello Novais): “Esse verso é um convite / que vem do meu coração / eu quero dançar contigo / nessa inauguração!”
Por essa perspectiva, é notório que há ainda grandes problemas na produção das seis e outras produções dentro da temática nordestina, como um sotaque forçado, estereótipos criados por sulistas e um preconceito ainda enraizado, mas deve-se também ter a habilidade de enxergar os acertos em meios a tantas prerrogativas. Que na exposição da arte xilogravada e da poesia cantada exista o olhar de aceitação e valorização dessa cultura que representa uma região tão importante para o país.